Os vereadores de Belém e representantes da Prefeitura de Belém, como o administrador regional do distrito e o coordenador da Escola Bosque, foram vaiados e duramente criticados, durante a segunda edição da Sessão Itinerante da Câmara Municipal, realizada na manhã da última terça-feira, 28, na ilha de Caratateua, mais conhecida como “Outeiro”.
A reunião ocorreu na quadra poliesportiva da Escola Bosque, onde o evento foi marcado por inúmeras intervenções do presidente da Câmara Municipal, vereador Zeca Pirão (MDB) que tentava acalmar o público que cobrava dos vereadores soluções práticas para diversos problemas da população.
Entre as pricipais queixas dos populares, estavam a precariedade do transporte público, a falta de saneamento básico na maior parte da ilha, a falta de remédios, médicos e demais profissionais de saúde nas UBSs, além da falta de asfalto e apoio ao turismo e comércios da Ilha.
Durante as acirradas discussões teve vereador que não gostou de ser cobrado e teve “piti” durante a sessão conforme vídeos publicados em grupos de comunidade, informou a página Outeiro News.
Durante o pronunciamento de algumas autoridades, entre elas, do Administrador Regional de Outeiro, Maikenn Souza (PSB), foi marcado por uma vaia coletiva e cobranças que envolve ter um maior contato com a população, além de apresentar cobranças juntos ao órgãos municipais que sejam de fato necessárias e de interesse à comunidade. Outras cobranças foram em forma de cartazes direcionada ao presidente da FunBosque, Prof. Alickson Lopes (PSOL), sobre a falta do Kit de Merenda Escolar entregue uma única vez nesses 9 meses da gestão do prefeito Edmilson Rodrigues.
Redação do Outeiro News
Segundo Zeca Pirão, foi possível criar uma agenda mínima com demandas que serão repassadas ao Executivo, por isso as sessões itinerantes permitem aproximar o Legislativo da comunidade.
Tudo que foi dito aqui darão um norte ao nosso trabalho. A democracia é isso, onde todos expressam suas opiniões. Toda crítica bem construída, embasada é de bom proveito para administração pública.
Maiken Souza – Agente distrital da Ilha de Outeiro, indicado pelo PSB.
“Isso era para ser um momento legal para a ilha, para falar sobre as demandas do povo de Outeiro, e não um palco para torcidas organizadas de um vereador ou outro como se estivéssemos numa partida de futebol”, criticou o vereador Emerson Sampaio (PP) quando esteve na tribuna. O vereador Fernando Carneiro (Psol) é o autor do projeto de lei que estabeleceu a Câmara Itinerante e foi o parlamentar mais vaiado entre os que se pronunciaram na sessão. Ele falou que o projeto precisa mirar em efeitos práticos, mas lamentou as claques levadas por alguns vereadores ao local. Na próxima sessão do Colégio de Líderes, Carneiro pretende sugerir critérios para evitar que a cena se repita nas próximas paradas da Câmara Itinerante, informou matéria do jornal OLiberal.
EMENDA PARLAMENTAR
A deputada Elcione Barbalho (MDB) esteve na sessão a convite do colega de partido Zeca Pirão (MDB), durante sua fala prometeu que pediria R$ 1 Milhão de Reais para que o prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL) possa investir em Outeiro.
ICOARACI É O PRÓXIMO
A próxima sessão itinerante da CMB será realizada no distrito de Icoaraci. Segundo Zeca Pirão, todos os envolvidos ainda serão convocados, assim como a data e o horário da sessão ainda serão definidos pelos vereradores.
Reconhecendo os problemas apontados pela comunidade presente, a vereadora Lívia Duarte (Psol) propôs que as próximas sessões itinerantes contem com a presença de representante do poder executivo de Belém, apesar de que a sessão contava com a presença do Administrador Regional do DAOUT, Maikenn Souza, nomeado pelo prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL) como uma éspecie de subprefeito no distrito.
Com tantas reclamação sobre o transporte urbano na ilha, Lívia também propôs a realização de uma audiência específica com a Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana – Semob. O requerimento da vereadora foi aprovado por unanimidade.
O vereador Matheus Cavalcante (Cidadania) disse que as reclamações dos moradores contra a precariedade do transporte público na ilha e em outros bairros da periferia de Belém é pior nos distritos como Outeiro, Mosqueiro e Icoaraci. Para ele tais problemas reforçam as críticas sobre o “indevido” aumento da tarifa de ônibus, em análise pelo prefeito de Belém e seus técnicos da SEMOB.
Eles que moram distante são quem mais sofrem com a péssima qualidade do transporte público de Belém. A primeira solução é ter a licitação do transporte público efetivada, que deve ser uma iniciativa do executivo municipal. Temos um transporte sucateado e com uma frota pequena, com a população sendo desrespeitada diariamente. Nos pontos distantes, defendo a criação de hidrovias. Temos rios extremamente navegáveis, que poderiam ser utilizados ao longo da costa, de maneira segura, sem ser de uma ponta a outra como é em Barcarena.
Vereador Matheus Cavalcante, lider da oposição na CMB.
Graciete Nascimento é engenheira agrônoma e mora há 11 anos em Outeiro. Ela aprovou a iniciativa, dizendo que pelo menos agora a comunidade está sendo ouvida – a última vez em que uma sessão da Câmara foi realizada no distrito ocorreu em abril de 1995. Nascimento afirma que os problemas só se acumulam na ilha desde que ela chegou lá – e que o transporte público é só um entre muitos.
“Sei que muito foi dito mas essa questão do transporte precisa ser levantada aqui sim. Precisamos urgentemente de uma resposta. Que vocês se unam e deem uma resposta para Outeiro, que está perdendo empregos, perdendo estudantes universitários por não ter a linha Outeiro-UFPA. O retorno de aprendizagem é zero para quem vai porque já chegam cansados na aula. E precisamos de uma unidade mista e o retorno da nossa maternidade aqui, urgente. É uma gente muito carente. Já paguei Uber para uma mulher dar luz na UPA. Sem contar a questão da orla. Precisamos olhar para a orla. Se todas as esferas se juntarem, sei que vamos ter a nossa orla aqui”, convocou.
As ruas estão todas cheias de buraco, sem condições de ir e vir principalmente quando chove. Ninguém pode sair de casa. Muita lama. Os ônibus são todos quebrados. Não é pedido só meu, é da população carente em geral, principalmente lá no bairro da Brasília, que é abandonado. Na minha rua tinha asfalto mas acabou faz tempo. Hoje é só o lamaçal. Eu até brinco quando chove dizendo que o asfalto amoleceu.
Guilhermina Martins, costureira que morou a vida toda na ilha, foi pedir saneamento básico aos vereadores de Belém, em especial a rua dela, a Violetas.
Lucicléia dos Santos Souza está desempregada no momento e esteve na sessão para ouvir o que os vereadores têm a dizer. Ela mora há 30 anos em Outeiro e classifica o abandono da ilha como revoltante – e criticou os vereadores que disseram que a ilha estava “ótima”.
Pra quem? Está cada vez mais precária. De transporte, saúde, segurança. Na verdade temos sucata aqui, não é transporte. Pega fogo, cai a porta. Entrou outra frota mas não vemos melhoria. Quando implantaram o transporte aqui tinha uns cinco mil habitantes. Hoje em dia somos um distrito grande, para ser um município. A unidade básica de saúde é a mesma de 1900 e antigamente. No governo do Edmilson deu uma melhorada na época, mas só isso. As escolas de ensino médio fecharam as portas. O que tem de bom nessa ilha? A única rua asfaltada no bairro que eu moro é referência. Avisam para parar na rua asfaltada. Que que é isso? O que temos de bom mesmo são nossos moradores, que lutam no dia-a-dia”
Com informações da CMB, de Oliberal e da Outeiro News.