Ocorrido na manhã desta quinta-feira (08), o naufrágio da lancha “Expresso Dona Lourdes”, que saiu de Cachoeira do Arari em direção à Belém, mas foi ao fundo do rio em frente à Ilha de Cotijuba, uma das que integram o DAOUT, distrito de Belém, gerou enorme comoção e virou notícia na imprensa nacional, chegando a fazer com que Lula publicasse uma mensagem se solidarizando com as família que perderam seus parentes.
A estimativa é de que cerca de 82 pessoas estavam na embarcação, sendo que 11 foram encontradas sem vida e 8 seguem desaparecidas. Os sobreviventes conseguiram nadar até as praias da ilha de Cotijuba ou foram resgatados por pescadores. Todos que estavam na lancha são moradores dos municípios de Cachoeira do Arari e Salvaterra. As buscas continuam nesta sexta-feira (09). Só hoje, os bombeiros vão mergulhar e vasculhar a lancha para tentar encontrar corpos que podem estar presos na embarcação, que continua no fundo do rio. Ou seja, o governo do Pará demorou a agir.
Embora tentem criar narrativas que jogam nas costas apenas dos donos da embarcação, as causas da tragédia que ceifou a vida de dezenas de paraenses é aquilo que podemos considerar como uma tragédia anunciada.
Sim, por mais que a narrativa de autoridades sejam de empurrar a responsabilidade pelo sinistro para as costas dos outros, faz tempo que assistimos acidentes causados em nossos rios terem como causa a falta de manutenção das sucatas que trafegam fazendo o transporte de passageiros de forma irregular e que conta com a omissão e a precária fiscalização por parte dos órgãos públicos.
Também não é novidade pra ninguém que gestores públicos ignoram os apelos dos passageiros que denunciam a dura realidade que são submetidos cotidianamente, com a falta de conforto higiene e segurança nas embarcações. Tudo por conta da ganância e a busca do lucro fácil e rápdio pelos donos das empresas de navegação, algumas delas pertecentes à famílias de alguns deputados, que sempre estão na base de apoio do governo do Pará e por isso obtêm privilégios e contratos de exclusividade na exploração do negócio, que monopolizado rende milhões todos os meses aos seus proprietários.
Os órgãos que deveriam ser equipados e bem preparados para combater a pirataria, o narcotráfico, o contrabando e o uso de embarcações que circulam de forma irregular em nossos rios, como o Batalhão de Patrulhamento Fluvial da Polícia Militar do Estado do Pará, a Capitania dos Portos, órgão ligado à Marinha do Brasil – por mais que haja esforços de seus integrantes – estão sucateados. Não basta ser um investigado para saber que todas essas instituições operam com pouquíssimos equipamentos e pessoal necessário para cobrir os rios e iguarapés que existem no Pará e na Amazônia oriental como um todo.
O Ministério Público do Pará tem a obrigação de criar uma força tarefa para investigar esses crimes e a omissão do poder público e apresentar aos contribuintes que pagam seus salários, medidas que regularizem o transporte fluvial em nosso estado e puna todos os responsáveis pela morte dos paraenses vítimas deste e de outros naufrágios.
Leia abaixo, o relato de Dário Pedrosa*, morador da ilha do Marajó, de onde partiu a lancha que naufragou ceifando a vida de dezenas de pessoas que antes de morrer, agonizaram diante de uma dura realidade que só ganha destaque e atenção dos governos e de setores da imprensa e da sociedade, quando ocorrem tragédias como a de hoje.
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ENTENDA ESTA TRAGÉDIA ANUNCIADA
Durante muitos anos se debateu melhorias no transporte que atende nosso Marajó. Antes tínhamos o Movimento Acorda Marajó, do qual fiz parte e conseguimos avanços significativos como a chegada das lanchas rápidas para Soure e Salvaterra, e o fantástico avanço que tivemos na qualidade dos serviços das balsas.
Mas emperramos nos navios e lanchas que servem o Porto da Foz do Rio Camará, interligando nossa região com Belém através do Terminal Hidroviário. As lanchas sucatearam e os navios, já foram denunciados, por diversas vezes, como impróprios para atender nossa população.
Tentamos defender, junto ao Governo do Estado, como alternativa, a lancha SALMISTA, da empresa Ferreira Navegação, mas a Arcon negou a licença. E não apresentou outra solução que não fosse manter as mesmas embarcações que já vinham, dia após dia, dando prego e parando no meio da baía, ficando a deriva ou mesmo cancelando viagens deixando passageiros a própria sorte.
Devido a tudo isso, várias lanchas iguais a Expresso Dona Lourdes passaram a fazer viagens clandestinas, saindo de diversos outros portos, sem nenhuma fiscalizam. E todas com grande número de passageiros, por que as pessoas estão fugindo do Porto da Foz do Rio Camará, devido ao péssimo serviço que ali estão ofertando. Isso tudo só para atender acordos e conchavos políticos.
A viagem que culminou com este trágico episódio para nossa população, estava com lotação completa. Sendo a alternativa de viagem, mesmo sem a menor segurança, para quem precisava chegar até Belém, a fim de tratar seus assuntos pessoais. Estas vitimas foram empurradas para a morte por causa da covardia das nossas autoridades, que não tiveram a hombridade de tomar uma atitude digna de respeito diante do caos que está instalado.
A TRAGÉDIA já vinha sendo ANUNCIADA, só não sabíamos onde, quando e nem com quem. Agora, resta lamentar e chorarmos nossas perdas e perguntamos: Tudo vai continuar do mesmo jeito?
Quem é o culpado por isso?
*Dário Pedrosa é professor, radialista e morador da ilha do Marajó.
Assista os vídeos gravados por moradores da ilha de Cotijuba com o resgate dos corpos e das vítimas que sobreviveram e receberam os primeiros socorros por moradores e pescadores, já que os órgãos de segurança do estado do Pará e da Marinha demoraram para chegar ao local. onde o barco afundou.
No meio da tarde, informado da comoção que as cenas geraram nas redes sociais, o governador Helder Barbalho gravou um vídeo onde informou o que ocorreu e disse que já haviam sido encontrados 14 corpos, inclusive de uma criança e além de lamentar pelo ocorrido e culpar exclusivamente o dono da embarcação, disse que cancelaria a visita de campanha que fazia em Redenção, região sudeste do estado para acompanhar os trabalhos de um gabinete de crise, criado, segundo ele, com o intuito de salvar vidas.
No entanto, o que apuramos e pode ser visto nos vídeos abaixo é que os sobreviventes foram resgatados por pescadores e donos de embarcações que estavam na ilha de Cotijuba. Assim, o que fica evidente é que o governador vem tentando conter o estrago que as mortes nessa tragédia anunciada e ignorada por ele e seus assessores, pode trazer para sua campanha eleitoral.
Assista aos vídeos sobre o dramático acontecimento, que requer de mais informações sobre as vítimas e todos os responsáveis:
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