‘Belivaldo, você é mentiroso’. A Tragédia de uma Nação, por José Rocha
‘Belivaldo, você é mentiroso’… Essas foram as últimas palavras do empresário Sadi Gitz, da cerâmica Escurial em Sergipe, que se matou com um tiro na boca na cerimônia de abertura de um seminário sobre o mercado de gás que aconteceria em Aracaju a partir desta quinta-feira e que, então, foi cancelado, não para menos
E por que isso aconteceu? Puro desespero de alguém que labutou a vida inteira em seu negócio e o viu ruir face à escandalosa escalada de preços do gás natural no Brasil, a partir do governo Temer e agora, mais ainda, no (des)governo Bolsonaro, tendo à frente o incompetente financista Paulo Guedes.
Na década de 90 o Brasil tinha a menor tarifa de energia elétrica do mundo. Essa abundância de energia segura e barata vinha essencialmente da geração de energia hidroelétrica e estimulou a entrada no País de inúmeros negócios intensivos em energia, como por exemplo, o da produção de alumínio. Época na qual o Brasil se tornou um dos maiores produtores mundiais desse metal.
Com a subida ao poder do liberal Fernando Henrique Cardoso que, como agora, nesse (des)governo, queria “torrar” todo o patrimônio estratégico nacional, via Estado Mínimo, e conseguiu em grande parte, desmontando a presença do Estado na economia, a exemplo do setor de telecomunicações, bancário, mineração, grande parte do parque gerador de energia elétrica e também de distribuição.
Como resultado, o que se viu não foi diminuição de tarifas ou aumento da competitividade como preconizado. Ao contrário. As tarifas, todas, subiram e o mercado em todos os segmentos privatizados se concentrou ou se desnacionalizou, mostrando o imenso equívoco das premissas liberais de FHC. O rebatimento desse descalabro no segmento de energia elétrica seguiu a mesma trajetória. Uma vertiginosa e contínua subida das tarifas de energia ao longo dos anos, onde a empresa geradora ou distribuidora de energia elétrica, agora privatizada, por contrato, nunca perde, sempre tem lucro, não importa se o cenário econômico é ou não favorável. Se ela vende ou não energia.
Mesmo após a nefasta gestão de FHC, as tarifas de energia elétrica, tanto de perfil de consumo residencial quanto industrial, estavam nas alturas, levando à retração e ao desinvestimento do setor de bens e serviços intensivos em energia. Esse descalabro levou, no caso do alumínio, a que o Brasil praticamente zerasse a sua produção face aos custos proibitivos, voltando a ser mero exportador de alumina e de bauxita (matéria prima do alumínio), mesmo tendo a maior reserva de bauxita do planeta. E quem lucrou com o descalabro de FHC em sua privatização mercantilista? Idiota? A Rússia, hoje a maior produtora de alumínio do mundo e que dita o preço internacional dessa commodity.
Com a subida dos governos petistas, na gestão Lula, se tentou uma reviravolta nesse cenário. Assim, para fazer frente aos custos proibitivos da energia elétrica, e em parte por escassez de energia face à falta de investimentos da geração de energia na era FHC, se estimulou a mudança da matriz energética em direção ao gás natural. O Brasil progressista do PT, de esquerda, tinha como aliado a Bolívia de Morales e suas imensas reservas de gás natural que nos garantia, a preços justos, segurança energética à preços competitivos para novamente fazer crescer o setor industrial, como o de cerâmicas, intensivo em energia. E foi nisso que o senhor Sadi Gitz, da cerâmica Escurial, em Sergipe, apostou.
Com o golpe parlamentar de Temer e seus abutres do “mercado”, o complexo sistema de fornecimento de energia vindo dos hidrocarbonetos começou a ser desmontado. O negócio da Petrobrás foi redirecionado para a empresa deixar de ser pilar de apoio ao desenvolvimento do Brasil e passar a ter somente a perversa lógica do lucro máximo, afim de satisfazer o apetite dos investidores. O governo incentivou e permitiu como acionista majoritário que o preço dos derivados, dentre eles, gasolina, diesel, gás natural e o GLP, fosse atrelado às flutuações do mercado internacional. O resultado? Preços abusivos. Exorbitantes e injustos que jogou parte da população mais pobre de volta à cocção com lenha ou com álcool. E o setor industrial também não foi poupado e o declínio foi inevitável. O desespero inevitável. As falências inevitáveis.
O senhor Sadi Gitz é uma vítima desse engodo. O suicídio do senhor Sadi Gitz diante do governador Belivaldo Chagas, a quem chamou de mentiroso em alto e bom som antes de se suicidar, de desespero, é a ponta do iceberg desse engano que foi primeiramente apoiar a aventura de Temer e do parlamento na ruptura democrática, que culminou com a deposição fraudulenta, sem crime, da presidenta Dilma e, em sem segundo lugar, em apoiar, e isso grande parte do empresariado, sim, tem imensa culpa, o senhor Jair Messias Bolsonaro. Um desastre na presidência e que, agora, tenta terminar o trabalho já quase completado por FHC e Temer, isto é, entregar o que restou das imensas riquezas estratégicas nacionais, as valiosas empresas nacionais às multinacionais. O desmonte está por se completar com a completa entrega e destruição da Petrobrás.
A morte trágica do senhor Sadi Gitz é o retrato desse governo.
O Brasil não merecia isso…O Brasil não merecia gente como Fernando Henrique Cardoso. Gente como Michel Temer. Gente como Jair Messias Bolsonaro.
O Brasil hoje é uma sombra pálida de uma nação altiva e esperançosa. Um retrato, desbotado, perdido em contradições, enganos.
Por José Rocha, via GNN.