Depois que o governador Helder Barbalho publicou um convite do Rei da Inglaterra para discutir biodiversidade no luxuoso palácio de Buckingham (Reino da Inglaterra), na próxima sexta-feira (17), a “cabocada” paraense caiu na manobra midiática idealizada nos altos da Torre da RBA: Dar um ar de magnitude e importância suprema ao pretensioso e soberbo “Rei no Norte”, por ter sido convidado para uma reunião, supostamente para tratar de uma “Ação Global sobre Biodiversidade”.
O convite serviu para induzir um suposto e eventual prestígio pessoal de Helder junto ao rei inglês, que já ignorou seu pai, Jader Barbalho, quando visitou o Pará em 1991 e ele era então governador do estado, pela terceira e última vez.

Ávido pela exposição midiática que sua visita ao palácio inglês pode render, se for bem explorada pela imprensa nacional e paraense (quase toda comprada e submissa aos seus ditames), Helder Barbalho faltou à reunião de reinstalação do Cofa (Comitê Orientador do Fundo Amazônia), realizada na sede do BNDES, no Rio de Janeiro, nesta 4ª feira (15). O comitê estava parado desde 2018 e foi reativado com a ausência de um dos políticos que não poderia faltar.
Em Dezembro do ano passado, Helder Barbalho foi eleito pelos nove governadores dos estados da Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Maranhão, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) como presidente do Consórcio Amazônia Legal, criado com a missão de acelerar o desenvolvimento sustentável da Amazônia Legal, de forma integrada e cooperativa, considerando as oportunidades e os desafios regionais. Seu objetivo é ser referência global em articulação, estratégia e governança, para transformar a Amazônia Legal em uma região competitiva, integrada e sustentável até 2030.

Mesmo ciente disso e tendo se comprometido a liderar esse debate, já na primeira reunião de reativação do Fundo Amazônia, onde seria a mais importante agenda desde que foi eleito para coordenar o grupo de governadores, Helder Barbalho preferiu abrir mão de seu compromisso institucional no Brasil para atender o chamado do rei inglês em uma reunião onde deve voltar com tarefas que receberá do império.
Em processo de retomada, o Fundo Amazônia já recebeu R$ 3,3 bilhões em doações, sendo R$ 1 bilhão da Noruega e R$ 200 milhões da Alemanha, segundo o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Aloizio Mercadante. No total, o fundo, administrado pelo banco de fomento federal, acumula R$ 5,4 bilhões, com R$ 1,8 bilhão já contratado.

FAZER O QUE NA INGLATERRA?
Se as intenções do império inglês são realmente boas para o Pará, é o que dez entre dez paraenses mais inteligentes duvidam.
A história tem nos mostrado que sob o olhar das nações mais ricas do mundo, sempre fomos vistos e tratados como uma colônia e mera fornecedora de minérios e outros produtos. O discurso ambiental pode servir mais uma vez como uma forma de fazer com que nossas riquezas sejam exploradas com mais facilidade e nossa classe política e empresarial continue recebendo uns “trocados”, para impedir que as riquezas da Amazônia realmente tragam benefícios para os amazônidas e os brasileiros.
Ao povo, as elites impõem o papel de mero expectador de cenas pitorescas, de homens ricos no poder, fazendo negócios, aqui e acolá, e fingindo representar os interesses de seus súditos.
Para ativar a mémoria do povo paraense, trago um trecho da entrevista que fiz na última quarta-feira (08), com o ex-ministro Aldo Rebelo, que esteve em Belém ministrando uma palestra no âmbito da eleição da nova diretoria da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Pará, quando também lançou seu livro “O Quinto Movimento – Propostas para uma construção inacabada”.
Leia também: Aldo Rebelo revela interesses ocultos sobre a Amazônia, como na mineração ilegal em terras indígenas
Fique agora com o trecho da entrevista que aborda os interesses e manobras que os povos amazônidas sofrem dos países ricos, com a anuência e acordos com a classe política local.
“O maior escândalo de pirataria da história da humanidade aconteceu aqui na Amazônia, já no fim do século XIX, quando o Brasil era o maior produtor de borracha do mundo e a inglaterra montou uma operação para roubar 70 mil mudas de serigueiras, mandou um agente do império inglês, ele recolheu 70 mil mudas, subornou a alfândega de Belém, porque não tinha como passar com 70 mil mudas, sem que se percebesse,
saíram com essas mudas, plantaram no Jardim Botânico de Londres, de lá levaram para a Ásia e em 30 anos, a Ingleterra passou a ser a líder mundial na produção de borracha.
E hoje o que eles estão fazendo?
Eles estão pegando o DNA das plantas e dos animais da Amazônia e registrando (patenteando) em bancos genéticos dos países ricos, sem registrar a origem. Ou seja, nós não podemos nem cobrar algum tipo de compensação, porque eles não identificam a origem e dizem que isso vai ser para o bem da humanidade.
Só se a humanidade for os grandes laboratórios americanos e europeus”, relembrou o ex-ministro Aldo Rebelo, em entrevista para o PODERCAST, com Diógenes Brandão.
E disse mais: “O Brasil precisa tomar conta da Amazônia. A Amazônia precisa ser tratada como patrimônio dos Amazônidas e dos brasileiros.
Temos que perder a ilusão com essa ideia de que o mundo tá aqui interessado em Meio Ambiente.
Tem o problema do Meio Ambiente? Tem. Mas o mundo não tá interessado nisso. Tá interessado muito mais na riqueza que tem aqui do que outra coisa”.
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