Por Carlos Eduardo Siqueira*
A eleição para o governo do Pará em 2022 foi um verdadeiro plebiscito, ou seja, o eleitor foi convidado a apertar sim ou não para permanência do governador. O resultado foi um avassalador 70% dos votos válidos. O governador se deu ao luxo de escolher uma ilustre desconhecida da política para ser sua vice, e não se viu nenhuma oposição, nem dissidência de sua base. Os partidos que historicamente foram oposição dobraram à direita. Entre os que não foram enquadrados, não se ouviu nenhum sibilo, resmungo ou qualquer ruído que seja, de contrariedade.
Essa eleição plebiscitária esgarçou os limites do poder, tanto é que, de forma indireta, os partidos da base do governador, com destaque para o PT, sem nenhuma cerimônia ou respeito à moralidade pública, um dos esteios do poder do Estado, indicou e aprovou a esposa dele para a corte de contas do estado. A principal função desta agência de controle horizontal, uma espécie de freio e contrapeso, o famoso check and balance, é de julgar as contas do governo, e terá justamente a esposa do governador como escrutinadora das contas do marido…
Aliás, é uma inovação política que chega ao campo da esquerda, já que os governadores do Piauí e da Bahia, ambos do PT, também indicaram suas respectivas esposas para esses “tribunais”, que nem fazem parte do Poder Judiciário, assim entendido.
No desdobramento plebiscitário, o governo incumbente se sentiu à vontade para apresentar o remédio amargo da privatização das estradas estaduais, como cura para todos os males. A população paraense teve um presente de grego, com a privatização de 526 km de malha viária, numa extensão que vai da região metropolitana de Belém, começando pela Alça Viária, até o sudeste do estado. A população que, majoritariamente, usa o transporte rodoviário, que já não é barato, terá também que pagar pedágio, já que esse custo será obviamente incorporado ao preço final da passagem, no transporte de passageiros. Há que se considerar, ainda, o encarecimento do frete, que impactará em todas as mercadorias consumidas pela população, que forem transportadas por essas rodovias privatizadas por Helder.
O discurso da privatização é sempre maravilhoso, vendida como uma passagem ao paraíso. Resta saber se a população do Pará, estado com os piores indicadores socioeconômicos, com destaque para o PIB per capita sofrível, terá condições de suportar os custos da transação política do governador.
Até aqui cantam os grilos…
*Carlos Eduardo Siqueira é Especialista em República, Democracia e Movimentos Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Pará (UFPA), e Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (UnB). Atua no estudo sobre Regimes Internacionais, Economia Política Internacional, Democracia, República e Movimentos sociais, Políticas Públicas sobre Meio Ambiente.
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