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Lúcio Flávio Pinto recebe título de Doutor Honoris da Federal do Amapá. A UFPA nunca deu

Em 2021, eu tinha uma pequena produtora de vídeo e fui contratado para gravar e transmitir via internet, um evento realizado no Ministério Público Federal, idealizado pelo Sindicato dos Jornalistas do Pará, denominado “Liberdade para Lúcio Flávio Pinto“.

Cobrei apenas o necessário para pagar um ajudante e o transporte de ida e volta para levar com segurança o equipamento que seria usado na filmagem e no streaming do evento, pois era uma honra pra mim poder participar daquele momento histórico de luta contra a censura e a tirania dos poderosos e com aquele autor de milhares de matérias e mais de uma dezena de livros fantásticos, com o “Jari: toda a verdade sobre o projeto de Ludwig“, um dos que eu li no auge dos 15 anos e nunca mais me deixei enganar sobre o cobiça das elites locais e do grande capital sobre a riqueza amazônica.

O evento que fui gravar e transmitir fazia parte da campanha “Somos Todos Lúcio Flávio”, que realizou atos contra a perseguição política que o jornalista vinha sofrendo desde 1992, quando somavam 33 processos judiciais cíveis e penais contra o jornalista, que inclusive havia sido espancado pelo atual presidente do grupo Liberal, o empresário Ronaldo Maiorana, a quem mesmo depois de apanhar dele e de seus capangas, ainda teve que pagar uma indenização de R$ 410 mil, o que representava cerca de 600 salários mínimos na época. 

O valor foi todo arrecadado durante a campanha em solidariedade ao jornalista, antes da data limite para o depósito do valor da indenização – ao rico e poderos empresário da comunicação paraense – imposta pela justiça do Pará.

Leia a matéria do site da Associação Brasileira de Jornalistas Investigativos, sobre o inesquecível dia em que Lúcio Flávio Pinto foi covardemente espancado por Ronaldo Maiorana.

Dedicado à função de investigar, checar informações e denunciar ações ilegais, corrupção, crimes contra o interesse e o patrimônio público, além de irregularidades no exercício da função pública, Lúcio Flávio Pinto tem comido o pão que o diabo amassou, mas não desiste de seu labuta como escritor e defendor da Amazônia, onde edita o famoso e indispensável Jornal Pessoal e seu blog.

A Wikipédia complementa um pouco mais da história profissional e da tragetória deste que é considerado uma dos melhores jornalistas do Brasil.

Anos atrás, em uma manhã de um dia ensolarada e quente – como são quase todos os dias em Belém – avistei o professor e jornalista Lúcio Flávio Pinto em uma parada de ônibus que fica em frente à Universidade Estadual do Pará e publiquei a foto no Facebook, com o seguinte comentário: Hoje a tarde, ao passar de ônibus em frente à UEPA do Telégrafo, vi o Lúcio Flávio Pinto em uma parada de ônibus e pensei comigo: Um dos melhores jornalistas da Amazônia, continua a viver do jeito que escolheu: Livre e sem vender sua alma aos diabos.

Lúcio Flávio Pinto, em pé aguardando o ônibus para volta pra casa.

Dito isso, agora leia abaixo a mensagem que capturei do perfil de outro talentoso escritor paraense, o também brilhante auto-didata Elias Pinto:

O Conselho Universitário da Universidade Federal do Amapá decidiu me conceder o título de Doutor honoris causa.

A proposta da honraria foi submetida ao Consun em 23 de setembro de 2019, não por acaso, exatamente no dia em que eu completava 70 anos, entrando simbolicamente na alta maturidade.Os dois anos de tramitação do processo demonstram o quanto o pedido foi avaliado antes da deliberação.

Entendo que a concessão preencheu os mais exigentes critérios de qualificação dos conselheiros, aos quais sou grato por essa comovente lembrança do meu nome.Os autores da proposição não me consultaram previamente.

A iniciativa foi integralmente deles, nenhum dos quais é meu amigo íntimo. Minha idade serve de reforço à qualidade da indicação.

Passando da marca forte dos 70 anos, já pouco posso esperar de reconhecimento ao meu trabalho de 55 anos em defesa da Amazônia; nem é minha característica sair atrás dessa prerrogativa. Se ela viesse a acontecer, seria por completa dependência de quem se lançou à desafiante tarefa de conseguir algum reconhecimento institucional ao que tenho feito.

Em 1974 iniciei meu mestrado em ciência política na Universidade de São Paulo, sob orientação do professor Oliveiros Ferreira. Éramos companheiros na sede do jornal O Estado de S. Paulo, mas nos separavam algumas divergências intelectuais.

Boa época em que essa dissonância era bem-vinda a ouvidos educados pelo canto e o contracanto, o enunciado melodioso e o dodecafônico.Oli (como o tratávamos na redação) não só aprovou a minha dissertação de mestrado (analisando a mensagem renovadora e vanguardista de alguns dos principais pensadores da assim chamada direita no Brasil, por mim classificados como conservadores modernistas, por terem uma visão profunda do Brasil), aceitando ser o meu orientador, como me enquadrou também no doutorado.

Mas voltei à Amazônia e abandonei o curso, resistindo às mensagens anuais desse grande mestre para o meu jubilamento, que acabou se consumando oito anos depois.Voltei à academia em 1989, como professor visitante do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos e do curso de comunicação social da Universidade Federal do Pará, durante oito anos.

Raul Navegantes e Jean Hébette, dois queridos e admirados amigos (Jean, infelizmente, já falecido), propuseram que me fosse concedido o título de notório saber sobre a Amazônia, mas a proposta foi rejeitada pelo Consul da UFPA.

Desde então, venho me tornando uma persona non grata na universidade da minha terra natal.A partir de 1983, fui professor visitante no Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade da Flórida, em Gainesville, nos Estados Unidos, uma das principais fontes de informações sobre a Amazônia. Orientei estudantes do centro e escrevi um livro sobre o projeto Jari, do milionário americano Daniel Ludwig, publicado em 1984.

A parte dele que saiu como reportagem em O Liberal ganhou o prêmio Esso regional daquele ano.Fiquei surpreendido, alegre e muito honrado ao saber da aprovação da honraria pela Unifap.

Um dos artigos do meu primeiro livro, lançado em 1977 (Amazônia: o anteato da destruição), foi sobre a exploração do manganês no Amapá pela Icomi. Em 1966, estive pela primeira vez no então território federal, desmembrado do Pará em 1943, e a ele voltei em diversas oportunidades, sempre a trabalho, de ínício, e para fazer palestras, posteriormente.

Não sou neófito naquela (e daquela terra). Por isso, recebo reconfortado o título que estão me dando, embora já há alguns anos lá não tenha retornado. O que reforça a minha gratidão por não me terem esquecido – nem deixado de estimar.

Lúcio Flávio Pinto.

Veja abaixo a Resolução da Universidade Federal do Amapá, que concedeu ao jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto, o título de Doutor Honoris Causa:

RESOLUÇÃO N. 29, DE 01 DE NOVEMBRO DE 2021

Concede o título de Doutor honoris causa ao Professor Lúcio Flávio de Faria Pinto.

A PRESIDÊNCIA DO CONSELHO UNIVERSITÁRIO da Universidade Federal do Amapá, na forma do que estabelece o Art. 14, inciso VIl do Estatuto UNIFAP, c/c o Art. 17, inciso XVIll do Regimento Geral da Instituição; e ainda com o Art. 24, inciso V do Regimento do CONSU, e CONSIDERANDO:

1. 0 teor do Processo n. 23125.027029/2019-46, de 23/09/2019, que trata do pedido de concessão do título de Doutor honoris causa ao Professor Lúcio Flávio de Faria Pinto;

2. A decisão do Plenário do CONSU, em sessão realizada no dia 19/10/2021.RESOLVE Art. 19 Conceder o título de Doutor honoris causa ao Professor Lúcio Flávio de Faria Pinto, de acordo com as disposições do Estatuto e do Regimento Geral da UNIFAP, em seu Capítulo I Art. 29, Parágrafo único, inciso VI, e Capítulo l1, Art. 4°, § 19, inciso VI1, respectivamente; e ainda com base no Regimento do CONSU, Capítulo IV, Art. 23, inciso I, alínea “h”, bem como na Resolução 008/2005 – CONSU, que regulamenta a concessão de Dignidades Universitárias e Distinções Honorificas no âmbito da Universidade Federal do Amapá.

Art. 2 Esta Resolução entra em vigor na data de sua assinatura.

Gabinete da Presidência do Conselho Universitário da Universidade Federal do Amapá.

Macapá/AP, 01 de novembro de 2021.

Prof. Dr.Júlio César Sá de Oliveira Presidente/CONSU

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