sábado, setembro 23, 2023
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Jornada Internacional faz homenagem à memória da missionária Dorothy Stang, assassinada há 17 anos

Com o tema “Em defesa da Amazônia. Pelo legado de Dorothy. Fora, Bolsonaro!”, o comitê Dorothy organiza uma série de atividades virtuais como forma de dialogar com a sociedade sobre o legado da missionária norte-americana, 73 anos, assassinada em uma estrada de Anapu, Pará, com seis tiros, a mando de fazendeiros, no dia 12 fevereiro de 2005.

A Jornarda Internacional busca dar visibilidade para as diversas faces e realidades da Amazônia e contará com organizações políticas e religiosas da Itália, Estados Unidos, Cuba, além de organizações de vários estados do Brasil, como Acre, Amazonas, Maranhão, Pernambuco, Mato Grosso e Pará. Com lives culturais, debates, ato inter-religioso e a construção de um documento cobrando providências sobre os casos de assassinatos no campo, o evento ocorre entre os dias 07 e 13 de fevereiro de 2022, nas redes sociais do Comitê Dorothy, em conjunto com outros movimentos sociais e organizações parceiras. 

Para a Professora da UFPA e organizadora do evento, Alcidema Coelho,  “Há décadas lutamos contra a violência generalizada no campo e na cidade. O contexto de desigualdade, violência, negacionismo, degradação ambiental, assassinato de ativistas de indígenas e lideranças. Apesar de ser um problema em nível nacional e antigo, foi agravado especialmente durante o governo Bolsonaro, portanto, se faz necessário e urgente, neste momento fazer um movimento ampliado em defesa da Amazônia e fortalecer o Fora Bolsonaro. Partindo dessa conjuntura, se faz oportuno realizar a Jornada Internacional Dorothy Stang”. Para Alcidema Coelho,  “o maior legado da Dorothy é a luta e a organização do povo em defesa da floresta, da Amazônia”

Defensora dos direitos ambientais, agrárias e de direitos humanos, irmã Dorothy abraçou, em parceria com representantes de sindicatos rurais e da Pastoral da Terra, a missão de desenvolver projetos sustentáveis para a geração de emprego e renda com reflorestamento em áreas degradadas. Seu objetivo era promover melhores condições de vida e de trabalho para a população de Anapu, pequena cidade do Pará a 600 quilômetro de Belém. O nome de Dorothy Stang se tornou sinônimo de resistência no campo, inspirando novas gerações de ambientalistas e abrindo caminho para a consolidação dos assentamentos do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Esperança e Virola Jatobá, em Anapu (PA), com mais de 600 famílias.

A jornada internacional tem 3 eixos:

1. A Violência e assassinatos aos povos do campo, das águas e das florestas:

Em 2021, foram registrados até o momento 26 assassinatos relacionados a conflitos no campo. Comparado com todo ano de 2020, já representa um aumento de 30% de assassinatos no campo. Das 26 vítimas de assassinatos, 8 eram indígenas, 6 sem-terra, 3 posseiros, 3 quilombolas, 2 assentados, 2 pequenos proprietários e 2 quebradeiras de coco babaçu. 103 mortes em consequência foram registradas até o momento em 2021, representando um aumento de 1.044% . 101 foram de indígenas Yanomamis. Destes, 45 eram crianças. (Relatório Conflitos no campo, CPT, 2021).

Nas últimas quatro décadas, 62 trabalhadores rurais e lideranças foram assassinadas no município em conflitos pela posse da terra. Em nenhum dos casos houve julgamento de algum responsável pelos crimes, portanto, a taxa de impunidade é de 100%. Até o momento, não temos informações se o crime tem motivação agrária, caberá à Polícia do Pará esclarecer as reais motivações da chacina. Apenas no estado do Pará, nas últimas quatro décadas, a CPT já registrou 29 massacres com 152 vítimas. No mesmo período, 75 lideranças foram assassinadas no sul e sudeste do Estado”. (CPT, Nota Publica /2022).

2. Territórios violados: a situação indígena, quilombola, ribeirinha

Foram registrados 1.191 casos de violência praticadas contra o patrimônio dos povos indígenas em 2020. Os nossos Biomas estão sendo devastados pelo fogo. Até o dia 22 de outubro de 2021, foram registrados 89.602 focos de calor no bioma, ultrapassando os 89.176 do ano anterior, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE, 2021). Os dados de desmatamento e queimadas nesses territórios tradicionais e os relatos dos indígenas indicam uma relação entre o aumento da presença de invasores com um aumento da retirada de mata e focos de incêndio, que ameaçam os povos indígenas do Xingu. Das 5 Terras Indígenas que mais queimaram em setembro 2021 no Pará, quatro estão na bacia do rio Xingu, somando 83% dos focos nesse tipo de área no estado. As Tis Kayapó (do povo mebêngôkre kayapó) Apyterewa (dos parakanã), Cachoeira Seca  (dos arara) e Trincheira Bacajá (dos xikrin) têm também altos índices de desmatamento: em 2019, estavam nas primeiras posições, em toda a Amazônia. (InforAmazonia,2021).

Segundo dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB, 2020), mais de 43 mil indígenas foram contaminados pela Covid-19 e pelo menos 900 morreram por complicações da doença no ano de 2020. Em 2020, 182 indígenas foram assassinados – um número 61% maior do que o registrado em 2019, quando foram contabilizados 113 assassinatos. A “invasão” do rio Madeira por garimpeiros ilegais ocorrido no mês de novembro deve-se a uma conjunção de fatores como: aumento no preço do ouro, queda na fiscalização ambiental, discursos e ações governamentais simpáticas à atividade e facilidade para “esquentar” o ouro ilegal. Por isso, a categoria Garimpeiro passou de 3% em 2020 para 6% em 2021. O salto desta categoria também foi registrado em “Conflitos pela Água”, tendo passado de menos de 1%, em 2020, para 5% em 2021.  (BBC- News Brasil, 2021)

3. Martírio, memória e resistência na Amazônia (Legado de mártires, defesa e resistência).

As ações de resistência dos povos, comunidades tradicionais e movimentos sociais, voltaram a subir após o primeiro ano de pandemia. O número de famílias em ocupações e retomadas registrado em 2021, teve um aumento de 558,57%, passando de 519 para 3.418, o que já corresponde a mais que o dobro do número total de famílias registrado em todo o ano de 2020 (1.391). Nos primeiros oito meses de 2021 foram registradas 1278 “Manifestações de Luta”, com a presença de 360.781 pessoas. No mesmo período de 2020 foram 768 Manifestações de Luta, um aumento de 66,40%. As Manifestações de Luta que abordaram a Questão Indígena tiveram um aumento de 146% em comparação com 2020.  De janeiro a agosto de 2020 foram registradas 46, já no mesmo período de 2021 foram registradas 113 Manifestações de Luta com essa temática. (CPT, 2022).

O que preocupa os movimentos e entidades de direitos humanos são as limitações dos órgãos de segurança pública do Estado em esclarecer as responsabilidades e causas de muitos assassinatos ocorrido no campo paraense. Em maio de 2021, a CPT e SDDH apresentaram à SEGUP, uma relação de 09 lideranças camponesas, assassinadas entre 2017 e 2021 apenas nas regiões sul e sudeste do Estado em que os crimes não tinham sido ainda esclarecidos e os responsáveis identificados e punidos.

A Marcha dos Povos Indígenas, em junho de 2021, com o tema – “Resiliência e luta pela (R)Existência e Vida Plena” contou com mais de 450 indígenas na porta do Ministério Público Estadual, eles cobraram ações de políticas públicas para seus povos e, em seguida, marcharam, mesmo debaixo de chuva, para o Palácio do Governo, onde uma comitiva dialogou com o vice governador. (CIMI/APIB, 2021). A conjuntura nos instiga a darmos as mãos, povos do campo, da cidade, homens, mulheres, jovens, crianças, para defender a Amazônia, que é também manter o legado de Dorothy, que sempre dizia: -”A morte da Floresta é o fim da nossa vida”. E defender a floresta é defender também os povos que vivem nela. Por isso, nessa ciranda estão não apenas instituições religiosas, mas diferentes movimentos e coletivos que atuam junto à luta do povo. Por esses motivos essa jornada apresenta um caráter ecumênico, religioso, político e ao mesmo tempo de cobrar do Estado providências diante da omissão, negligencia e impunidade, frente a assassinatos de ambientalistas, defensores e defensoras de direitos humanos, na Amazônia de modo geral, no estado do Pará em particular.

História de Dorothy Stang – Freira norte-americana naturalizada brasileira, Dorothy pertencia à congregação católica internacional Irmãs de Nossa Senhora de Namur, ao lado de mais de 2 mil mulheres que realizam trabalho pastoral pelo mundo. Ela começou a atuar no Brasil em 1966, em Coroatá (MA). Em 1972, foi para a Amazônia e se instalou na Vila de Sucupira, berço da pequena cidade de Anapu (PA), inaugurada em 1972 para abrigar trabalhadores que construíam a Rodovia Transamazônica (BR-230). A sua missão ali era promover uma vida digna, por meio da agricultura camponesa, às pessoas que passaram a habitar a região. Ela ajudou a fundar Escola Brasil Grande, primeira dedicada à formação de professores do município, em parceria com a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Uma de suas principais iniciativas — e a que mais incomodava os poderosos da área — foi o Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Esperança. Com área de 32 mil hectares e ligado ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), a proposta tem como objetivo beneficiar 400 famílias ao reverter a lógica de desenvolvimento focado em crescimento econômico pela adoção de um modelo capaz de conciliar a atividade produtiva e o respeito ao ambiente. Por quatro décadas de atuação, ela foi premiada, em 2004, pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-Pará) pela luta em defesa dos direitos humanos.

Assassinato de Dorothy Stang – Irmã Dorothy foi assassinada com seis tiros, aos 73 anos, em 12 de fevereiro de 2005. Ela sofreu uma emboscada na estrada que leva ao lote 55 do PDS Esperança, onde se encontraria com técnicos do Incra para discutir detalhes do projeto. O crime foi encomendado por dois fazendeiros: Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, e Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão, grileiros que brigavam por posse de terras pertencentes à União. Ambos foram condenados a 30 anos de detenção. Bida está em prisão domiciliar desde 2015. Taradão foi preso somente em abril do ano passado, depois de aguardar a maior parte dos catorze anos em liberdade. O intermediário do assassinato,  Amair Feijoli da Cunha, o Tato, foi condenado a 18 anos de prisão — e em 2010 passou a cumprir a pena em domicílio. O autor dos disparos, Rayfran das Neves Sales,  foi condenado a 27 anos. Em 2013, ele passou a cumprir prisão domiciliar e, em 2014, cometeu outro assassinato. Seu comparsa, Clodoaldo Carlos Batista, o Eduardo, teve pena de 17 anos e a cumpre em regime semi-aberto.

Serviço: Evento “Jornada internacional Dorothy Stang –  Em defesa da Amazônia. Pelo legado de Dorothy. Fora, Bolsonaro” promove atividades virtuais em homenagem à memória da missionária norte-americana, assassinada há 17 anos, em Anapú (PA). As atividades ocorrem entre os próximos dias 07 e 13 de fevereiro com participações de entidades politicas, religiosas e movimentos sociais dos EUA, Itália, Cuba, além de entidades brasileiras.. Transmissão pelas redes sociais do Comitê Dorothy.

Contatos: Alcidema Coelho: (91) 98332-2501, Francisco Batista: (91) 98260-1045,

Programação Geral – “Jornada internacional Dorothy Stang –  Em defesa da Amazônia. Pelo legado de Dorothy. Fora, Bolsonaro!”

JORNADA INTERNACIONAL DOROTHY STANG

Programação

07 a 13 de fevereiro de 2022

            GRUPOATIVIDADEDATALOCAL
    
Comitê DorothyAbertura Oficial da Jornada Internacional Dorothy Stan07 de fevereiroBelém
COMUNEMA, XINGU VIVO PARA SEMPRE, COLETIVO DE MULHERES, MOVIMENTO DE MULHERES TRABALHADORAS / CAMPO E CIDADE- ATM, COMITÊ REPAM XINGU, DIOCESE DE XINGU -ALTAMIRA, ORGANISMOS SOCIAISAto Público dia 12/02 Memória a missionária Dorothy Stang Narrativas: expressões artísticas, falas políticas e carta manifesto.   Gesto concreto: Amazônia em pé: plantio de mudas na praça Pio XI (Praça Mattias) e distribuição de mudas.12/02Praça Pio XI (Praça do Matias) em frente a Catedral e Orla do Cais de Altamira- Pará
Associação indígenaCotação de história e criação de história.07 – 13 fev.Aldeia Karanã
Associação LGBTQIA+ de Itacoatiara grupo Pedra PintadaOrientação, instruções e encaminhamento no mercado de trabalho31/01Itacoatiara-Am
União Brasileira de Escritores Secção PaulistaRecital de poesia, teatro, e apresentação culturasMarçoShopping Norte Janga
Fundación Padre ScottMística con Hermanas de Notre DameMarçoCalifórnia, USA
Acervo HDocumentação fotográfica, noticias07 – 13/02Belém
Público.InteresseAções de investigação de casos de crimes contra os direitos humanos07 – 12Londres
Idade Midia – Comunicação para CidadaniaRadio Ribeirinha Libertadora e Canal IMTV Belém do Pará
UBE Paulista. Margarett LeiteApresentação da miscigenação cultural brasileira, em poedia , cantos e danças, cultura afro, coco de roda, ciranda, capoeira, boi mandigueiro. Cantores e cantoras MPB, forró, com feira de artesanato, e comidas típicas.MarçoPátio do Shopping Norte Janga.
Red de Cooperación Amazónica – REDCAMConversatorioAbrilPuerto Ayacucho, Amazonas, Venezuela
Universidade Federal do ParáGT CULTURA- organização das atividades02/02Belém
Juventude vamos à luta e PajeúAgitação política, exposição de textos e imagens.09/02Restaurante Universitário e orla UFPA
Gt de arteMissas e momento de celebração13/02Belém do Pará
Paróquia São Vicente de Paulo, em Recife Pernambuco no BairroAto Público dia 12/02 Memória a missionária Dorothy Stang Narrativas: expressões artísticas, falas políticas e carta manifesto.   Gesto concreto: Amazônia em pé: plantio de mudas na praça Pio XI (Praça Mattias) e distribuição de mudas.08 a 13 de feveireiroBairro dois unidos em Recife Pernambuco
Ir. Antônio AnaiaRoda de Conversa10/02/2022México
Idade Mídia – Comunicação para a CidadaniaRadio ribeirinha libertadora e anal IMTV07-13/2022Belém
Comitê DorothyCelebração Inter-religiosa12/02/2022 

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