Um total de 270 funcionários da empresa Brasil BioFuels (BBF) estiveram na manhã desta terça-feira (26) na praça Dom Pedro I, em frente à Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa), em protesto pela insegurança que estariam vivendo na área operacional e de reflorestamento da multinacional, localizada no polo de Vera Cruz, no município do Acará, onde é beneficiado óleo de palma. Integrantes do Sindicato dos Empregos e Empregadas Rurais do Município do Acará (Sindter) também participaram do protesto.
Uniformizados e com apitos, os funcionários chegaram em seis ônibus que ficaram estacionados na Avenida Portugal. A reclamação pôde ser vista em faixas, em que chamavam atenção à violência praticada por lideranças da etnia Tembé, da Região do Acará, base operacional da empresa criada em 2008. A multinacional atua no setor de biocombustível e na geração de bioenergia. Os funcionários protestaram às proximidades da Praça do Relógio.
Ônibus estacionados na Avenida Portugal. Seis coletivos foram deslocados da cidade do Acará até Belém, segundo a empresa.
De acordo com a empresa BBF, que além do Pará, atua ainda nos Estados de Roraima, Amazonas, Rondônia e Acre, o polo industrial do Acará concentra aproximadamente 400 funcionários. Eles atuam no beneficiamento do dendê e em ações de plantio. O clima de tensão na região é produto de disputa terriorial entre a empresa e as comunidades tradicionais.
“A gente está em busca de reconhecimento da atuação de nosso trabalho. Por quê? O que acontece? Tudo só está saindo em favor dos índios, pela questão de ser indígena, de eles alegarem que estar sendo ocupada a terras deles e ninguém olha pelo lado da empresa. Porque, no caso, essa área é da empresa, e todos esses índios invadiram muito mais que 70%, 80% de atuação da empresa para roubar frutos. Eles impedem a entrada da gente no campo, ameaçam a gente, armados. Todos eles armados. E se gente não revidar, eles atiram na gente mesmo, batem e humilham nossos colaboradores”, relata Bruno Oliveira, líder operacional do setor 2 do polo agrícola.
Representantes da BBF e do Sindter foram recebidos pelo deputado estadual Carlos Bordalo (PT), que preside atualmente a Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor do poder legislativo estadual. “Viemos reivindicar a nossa segurança, dos colaboradores, e a gente teme pela nossa integridade física, estamos sendo prejudicados no nosso trabalho, impedidos de exercer nossa função. E, na verdade, não sabemos quem está à frente. O certo é que deveria ser intermediado por alguma liderança quilombola ou indígena. Estamos pedindo socorro aqui”, disse Carlos Neri dos Santos, da empresa terceirizada Rural Palmar.
Na audiência com Carlos Bordalo, os trabalhadores disseram que não chegaram a “uma conclusão convincente, mas estamos numa expectativa de soluções melhores”. “A priori, estamos reividicando a nossa segurança e, segundo, o nosso posto de trabalho, porque essa empresa trouxe muito desenvolvimento para o Acará, Moju e Tomé-Açu. Se essa empresa se fechar, quantos pais de família estão aqui? Quantas famílas irão sofrer com esse impacto?”, questionou o funcionário de uma empresa terceirizada Carlos Neri dos Santos.
Trabalhadores e integrantes do Sindter criticaram a forma como o parlamentar recebeu a demanda apresentada pela comissão. “Nos recebeu mal com muita estupidez, um cara que tentou distorcer algumas coisas, tentou jogar a empresa contra a gente, querendo dizer que a empresa não toma partido, que a empresa não se posiciona, o que não é verdade. Nós trabalhadores sabemos que não é verdade”, criticou um dos sindicalistas.
Durante os trabalhos desta terça-feira, o deputado Delegado Caveira (PL) se manifestou na tribuna à respeito do protesto dos funcionários. O parlamentar recebeu os manifestantes e prometeu mediar ações para solução do conflito. Veja o vídeo.
Os trabalhadores dizem que estão sem condições de trabalhar devido o cenário de distruição do polo industrial de Vera Cruz, após a invasão ocorrida no último dia 21 de abril. Afirmam ainda que a empresa já formalizou cerca de 650 boletins de ocorrência, mas que até o momento a Polícia Civil não abriu qualquer procedimento para apurar as responsabilidades de invasão, saque e destruição de unidades da empresa BBF.
Pedimos um posicionamento ao deputado Carlos Bordalo, por meio de sua assessoria, mas fomos informados que ele havia entrado em uma reunião, mas aguardamos resposta. Tentamos também contato com Paratê Tembé, mas sem sucesso até o momento.