O Remo enfrenta o Corinthians hoje, 12, às 21h30, no Mangueirão. A partida é válida pela terceira fase da Copa do Brasil. Os ingressos serão vendidos somente em duas bilheterias e terá toda a pirotecnia que o governo de Helder Barbalho gosta de fazer: shows, banda de pagode e DJs. O Mangueirão agora tem quatro novas áreas de restaurantes, mas apenas duas vão funcionar durante o jogo de hoje. Para acessar o Restaurante RA 1 a entrada é bem salgada: R$ 250 por pessoa, sem direito a consumação.
O futebol é indiscutivelmente uma paixão nacional, quase unanimidade. Os paraenses foram avaliados como os torcedores mais apaixonados do Brasil, e olha que temos uma polarização entre dois times grandes, apenas. As duas maiores torcidas do Pará merecem e precisam de um estádio de grande porte e em condições de disputar partidas com times de outros estados, e até partidas da seleção brasileira, sem fazer feio.
Não há quem não reconheça que o Estádio Olímpico Edgar Proença, que ninguém chama por esse nome, mas sim de Mangueirão, deu um salto de qualidade no conforto, segurança, estruturas e espaço para os torcedores. Isso é fato.
Mas o que há por trás desse glamour e por baixo dos tapetes de investimentos multimilionários, numa obra que apresenta defeitos de acabamento, alguns problemas em equipamentos, como as catracas, e que não apresentou tudo o que era prometido pelo governador Helder Barbalho? É o que abordamos nesta série de matérias jornalísticas sobre a obra mais cara feita pelo governo do Estado.
A comunicação social do governo tem propagandeado que a reestruturação do Mangueirão elevou o nível de segurança e conforto do estádio, agora com capacidade para 50 mil torcedores, e que a obra de modernização teria garantido condições para realização de grandes eventos esportivos de nível internacional.
Realmente, foram instaladas novas rampas de acesso, elevadores, cabines de transmissão, camarotes, banheiros, restaurantes, cobertura, instalações elétricas e hidráulicas, sistema de sonorização e iluminação cênica, placares, controle de acesso, novas acomodações para atletas, área externa refeita, projeto de sustentabilidade, recuperação da estrutura, postos policiais, câmeras com reconhecimento facial e ampliação do setor de cadeiras com substituição dos assentos por poltronas retráteis, bem como mobilidade e acessibilidade.
O acesso ao Mangueirão foi reorganizado e ampliado. Para chegar às arquibancadas, o torcedor agora conta com sete rampas de cada lado, sendo uma exclusiva para cadeirantes. O estádio conta com total acessibilidade para pessoas com deficiência(mas ainda não colocaram uma cobertura adequada, o que faz chover sobre quem está nessa área), elevadores panorâmicos e novas catracas(algumas não funcionando). O novo gramado é do tipo “bermuda celebration”, que dizem ser mais adequado para o clima do Pará e utilizado nos principais estádios de Copa do Mundo.
“Esse é o maior espaço esportivo da Amazônia. Aqui nós teremos, de volta, diversas atividades de atletismo, atividades na área da educação, da saúde, assistindo a nossa população”, disse Helder Barbalho, na inauguração do Mangueirão. A estrutura agora conta com salas inclusivas do Transtorno do Espectro Autista (TEA), inéditas no Brasil. Nesse espaço, crianças, jovens, adultos e idosos com diagnóstico fechado ou em investigação para TEA e seus familiares poderão usufruir de um ambiente reservado, com acesso mais restrito e simplificado, com a disponibilidade de recursos e equipamentos, como abafadores, mordedores, lycras sensoriais, coletes e aliviadores de estresse.



Na área externa, antes da reconstrução, o estacionamento comportava pouco mais de dois mil veículos. Agora, o número saltou para cerca de sete mil vagas, mas a infraestrutura do estacionamento não foi concluída. Chegar às arquibancadas e aos camarotes também está mais cômodo. As rampas de acesso foram readequadas e ampliadas em 600%, passando de duas para 14 rampas. A segurança foi reforçada com a instalação de um Batalhão de Polícia de Eventos, uma delegacia de Polícia Civil, um espaço de atendimento à mulher e 530 câmeras instaladas no novo estádio, para monitoramento eletrônico em tempo real, que conseguem fazer o reconhecimento facial das pessoas que frequentam os espaços em dias de evento, que estão conectadas com os servidores da segurança pública.
O Novo Mangueirão contempla também iniciativas de sustentabilidade, como utilização de placas fotovoltaicas e sistema de coleta e reaproveitamento da água da chuva.
Obra cara, inaugurada sem ter sido concluída
Pesquisamos na internet os valores totais dos investimentos feitos pelo governo do Estado na Reforma do Mangueirão, sem encontrar registros de execução parcial ou conclusão total das obras e serviços. Os valores dos contratos impressionam:
CONTRATO Nº 15/2021 REFORMA GERAL DO ESTÁDIO OLÍMPICO DO PARÁ (MANGUEIRÃO) CONSÓRCIO OBRAS MANGUEIRÃO R$ 226.221.550,04
CONTRATO Nº 80/2022 REFORMA INTERNA FORNECIMENTO E INSTALAÇÃO DE EQUIPAMENTOS DESTINADOS AO ESTÁDIO OLÍMPICO DO PARÁ (MANGUEIRÃO) KANGO BRASIL LTDA R$ 40.166.999,71
CONTRATO Nº 81/2022 URBANIZAÇÃO DO COMPLEXO ESPORTIVO NO BAIRRO MANGUEIRÃO ANKARA ENGENHARIA LTDA R$ 152.066.273,26
CONTRATO Nº 141/2022 FORNECIMENTO E INSTALAÇÃO DA COBERTURA TIPO TPO, PISTA DE ATLETISMO E DE 02 (DOIS) ELEVADORES DE EMERGÊNCIA NO ESTÁDIO OLÍMPICO DO PARÁ CONSÓRCIO ENGENHARIA BELÉM R$ 89.653.096,63
TOTAL INVESTIDO: R$ 508.107.919,64
Apesar de todas as melhorias feitas no Mangueirão 2.0 Turbinado, na sua reinauguração faltou luz e continuavam as velhas goteiras. Na área reservada aos cadeirantes chovia sobre eles, como mostram vídeos que circularam em grupos de whatsapp e redes sociais.
O Mangueirão, cujo nome oficial é Estádio Olímpico Edgar Proença, nem poderia ser chamado assim, na inauguração, pois simplesmente não tem pista de atletismo! E essa tal “urbanização” de 152 milhões de reais? Alguém sabe o que foi feito e quanto efetivamente custou pra fazer?

Recebi várias críticas e reclamações de torcedores sobre a diferença entre expectativa e realidade. “O estacionamento que antes era de graça agora é pago, caro e continua a mesma imundície, com pistas esburacadas e lama por todo lado”, diz um leitor. Outros reclamaram de fiações expostas, com riscos de choque elétrico, catracas que não funcionavam, falta de lixeiras (equipamento básico) e da dificuldade de acesso ao estádio, que continua um sufoco, com os mesmos engarrafamentos e confusão no trânsito, no entorno do Mangueirão.

Não sei se foi por causa dessa série de problemas, ou por insatisfação com sua gestão, mas eu vi o governador Helder Barbalho sendo vaiado por dezenas de milhares de torcedores, quando apareceu todo faceiro pra assistir o Re X Pa no evento teste de reabertura do Mangueirão.
Não entendemos como o governador poderia ter inaugurado uma obra como essa, ainda inacabada, somente com convidados escolhidos a dedo, sem a participação da população. Seria medo de novas vaias?
Como a responsabilidade da reforma do Mangueirão é da SEDOP – Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Obras Públicas, cujo secretário é o engenheiro civil Benedito Ruy Santos Cabral, aguardamos um posicionamento oficial do órgão para esclarecer todos esses problemas.
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