Para setores da oposição brasileira, a derrota da PEC 135/19 – mais conhecida como PEC do voto impresso – trouxe um gosto amargo ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido), já que o presidente fez campanha aberta para que o projeto fosse aprovado, chegando a acreditar que os deputados do “Centrão” poderiam lhe garantir a aprovação da principal proposta difundida pelo presidente e seus apoiadores, nos últimos meses, mas não foi isso que aconteceu.
Eram necessários 308 votos favoráveis para que o projeto fosse aceito, mas com 229 votos a favor e 218 contrários, a Câmara dos Deputados rejeitou a adoção do voto impresso nas próximas eleições.
Já para o jornalista e cientista político Bruno Boghossian, os deputados deram um presente para que Bolsonaro mantenha a narrativa de que tanto faz questão de afirmar que sem o voto impresso, não haverá eleições, mantendo a tensão entre os poderes e instituições brasileiras, com a ameaça de ruptura institucional, ou seja, um novo golpe militar, supostamente com apoio das forças armadas.
Bolsonaro manipulou números da votação para cantar vitória. Disse que o apoio de 229 deputados era prova de que há desconfianças sobre as eleições e lançou novas suspeitas de fraude nas urnas eletrônicas, mesmo admitindo não ter evidências de nada. A Câmara deu um presente ao Planalto —e ainda fingiu que aquele era um gesto de firmeza.
Não é ingenuidade, mas interesse. Parlamentares já sabem que o presidente não vai se comportar de outra maneira e que seu único objetivo é o tumulto. Esses políticos, entretanto, preferem fingir que as pisadas no pé não doem e manter o arruaceiro no salão. Eles já se acostumaram à ideia de exercer seu poder com Bolsonaro no recinto.
O Congresso deveria prestar mais atenção nos sinais emitidos pelo próprio presidente. A cada vez que recebe a oportunidade de participar do jogo político, Bolsonaro demonstra que não está disposto a seguir nenhuma regra. Não será diferente daqui até 2022.
Já o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), eleito para o cargo com apoio de Bolsonaro disse que com a decisão da Câmara dos Deputados, o assunto do voto impresso está resolvido e não será analisado pelos senadores. Pacheco vinha sendo questionado sobre a possibilidade de uma nova rodada de debate no senado, onde uma outra PEC (Proposta de Emenda à Constituição) está nos anais da casa desde 2015, mas ele rejeitou essa possibilidade.
Para apoiadores, Bolsonaro manteve o tom de instabilidade, dizendo que se os 229 deputados votaram a favor do voto impresso, eles não teriam confiança no voto eletrônico e alegou que os 218 deputados que votaram contra o voto impresso, fizeram isso com medo de retaliação, sem apresentar provas ou indícios de que isso foi o que de fato aconteceu.
Pelo que se observa, a narrativa de Bolsonaro será mantida e mostra que ele evita tensionar o debate contra o poder legislativo, já que os congressistas têm o poder de aceitar um dos pedidos de impeachment contra ele e assim, o presidente seguirá atacando setores do poder, principalmente ministros do TSE e o STF, além de setores da imprensa e partidos de oposição, alimentando seus seguidores e insinuando que está sendo ameaçado por “forças do mal” e que é o povo que precisa defendê-lo para que ele defenda o povo.
O que acontecerá até as eleições é uma incógnita, mas é bom lembrar que Bolsonaro fleta e induz sua legião de seguidores de que não deve deixar o poder, mesmo que não seja reeleito.
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