terça-feira, março 21, 2023
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Antes do Pará, o Brega já era patrimônio cultural e imaterial do Recife

A lei que declarou o movimento brega como patrimônio cultural imaterial do Recife foi sancionada no dia 1º de Junho deste ano, pelo prefeito João Campos (PSB), após ser aprovada pela Câmara Municipal da capital pernambucana, ainda no mês de Junho. 

Por meio de nota, o prefeito afirmou que o brega é uma manifestação cultural e um patrimônio do Recife e “ninguém pode diminuir isso”.

O brega vem mostrando sua grandiosidade para a cultura brasileira, tendo o Recife com um dos principais palcos para as suas mais diversas manifestações.

João Campos, prefeito municipal do Recife-PE.

Em Maio de 2013, o governador Simão Jatene sancionou projeto de lei que declarou o Tecnomelody como patrimônio artístico e cultural do Pará.

Gaby Amarantos, que representa o tecnomelody do Pará em todo o país, comemorou a possibilidade de mudança por conta do reconhecimento do Tecnomelody como patrimônio do estado (Foto: Natália Mello/G1-PA)

Um ritmo emergente das periferias de Belém, o tecnomelody, foi reconhecido como patrimônio imaterial artístico e cultural do Pará no último dia 24 de maio. O governador do estado, Simão Jatene, sancionou a Lei 7.708, aprovada por unanimidade na sessão do dia 10 de abril na Assembleia Legislativa do Pará (Alepa). Para os artistas, a medida representa um começo do reconhecimento.

“Creio que a lei veio na hora certa e fico muito feliz com a decisão positiva. Agora temos mais respaldo para conseguir benefícios para o movimento, tanto do governo quanto de empresas privadas. Ajuda na hora de exportar, nos projetos de lei de incentivo e na relação do movimento com o próprio povo do Pará, que se orgulha dessa iniciativa. O paraense é muito de valorizar a nossa cultura e isso alimenta a autoestima. Grande vitória!”, disse Gaby Amarantos, um dos expoentes do ritmo”, informou a matéria do G1-PA.

Na época, o presidente da Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves (FCPTN), Nilson Chaves, disse: É importante transformar em patrimônio cultural qualquer manifestação que tenha uma identidade clara e representativa do estado. “É muito positiva a atitude de reconhecer um estilo desenvolvido aqui. Acredito que devemos estender isso também a outros ritmos amazônicos, que também são importantes como o tecnomelody, e que talvez tenham uma vida mais longa, há exemplo da Marujada de Bragança e do siriá, retumbão e lundu”.

08 ANOS DEPOIS DO TECNO MELODY, O BREGA É CONSIDERADO PATRIMÔNIO CULTURAL E IMATERIAL DO PARÁ

Percebendo que estávamos sendo ultrapassados, a Deputada Estadual Ana Cunha (PSDB) criou o projeto, a ALEPA aprovou e o governador Helder Barbalho (MDB) sancionou a lei que tornou o Brega paraense como Patrimônio Cultural e Imaterial do Pará.

O feito foi bastante comemorado e noticiado pelos demais colegas da imprensa paraense, mas pouca reflexão se fez do que isso realmente significa. Restou um palco armado na Estação Gasômetro, onde políticos se misturaram com alguns artistas renomados e selecionados pela SECULT, tendo como foco principal da noite desta quarta-feira, 15, a dança do governador Helder Barbalho (MDB), com sua esposa, a primeira dama do estado, Daniela Barbalho.

Assim como o Carimbó e o Tecnomelody, o Brega está internalizado na cultura do povo paraense e há tempos merecia o reconhecimento das autoridades, para muito além de uma lei. Demorou, mas se tornou-se patrimônio cultural. Mas e agora?

Os músicos, produtores e mestres que mantêm esses ritmos vivos precisam de mais incentivos para poderem gravar discos, clipes e fomentar a cadeia produtiva, que envolve todos que dedicam suas vidas às expressões populares que formam a cultura paraense.

Digo isso porque sabemos que muitas pessoas talentosas, mesmo já tendo feito sucesso, hoje vivem à míngua, sem o devido reconhecimento.

Assim, parabenizo todos os envolvidos neste momento de conquista dos bregueiros, mas incentivo que busquem ampliar a luta por valorização e políticas de fomento, com a captação de recursos públicos e privados, para que a indústria cultural paraense exporte talentos e fortaleça aqueles que há tantos anos esperam por oportunidades, assim como possamos preparar novos músicos e artistas, a trilharem a estrada que os levem para a profissionalização e assim tenham o sustento de suas famílias, sem precisarem trabalhar em outras áreas, como hoje ainda acontece.

HÁ 7 ANOS, CARIMBÓ JÁ É PATRIMÔNIO CULTURAL E IMATERIAL DO BRASIL

Em 2014, o IphanGovBr declarou o Carimbó como Patrimônio Cultural e Imaterial do Brasil.

Lembro que no fim dos anos 90, conheci pessoalmente, nada mais, nada mesmo que Augusto Gomes Rodrigues, ou simplesmente, o Mestre Verequete.

Sentado em um banquinho, em frente da vila de casas onde morava, no bairro do Jurunas, já com certa idade e com a voz um pouco embargada, ainda cantarolava seus hits, vendendo o famoso “churrasquinho de gato” para manter a sobrevivência da família.

Aproveitei a oportunidade e gravei uma entrevista para um projeto socio-educativo da ONG Rádio Margarida, em que eu trabalhava como produtor audiovisual na UFPA e mostrei a filmagem para um estudante que iniciava na carreira de roteirista de cinema.

Meses depois, Rogério Parreira escreveu o roteiro junto com Luiz Arnaldo Campos e transformaram a história do talentoso vendedor de churrasquinho em um filme documentário, com recursos do I Prêmio Estímulo para Produção de Filmes de Curta Metragem, promovido pela Prefeitura Municipal de Belém. 

Assim nasceu o curta-metragem “Chama Verequete”, que conta a história daquele que pra mim é o verdadeiro rei do Carimbó paraense. Verequete faleceu no dia 3 de Novembro de 2009.

A história de Augusto Gomes Rodrigues, ou como todos o conheciam como Mestre Verequete.

Antes de partir, só tive outra oportunidade de reencontrar com a família do Rei do Carimbó, dessa vez atuando como assessor de impresa da SEEL – Secretaria Estadual de Esporte e Lazer – onde ajudei a organizar uma homenagem ao Mestre Vereque e em favor da campanha para que o Carimbó fosse considerado Patrimônio Cultural e Imaterial do Brasil.

O evento aconteceu em um jogo amistoso entre o Remo e o Flamengo, quando Belém estava em sua campanha como candidata a ser uma das cidades-sede da Copa do Mundo de 2014.

O carimbó, música típica do Pará, tocou pela primeira vez, em alto som nos alto-falantes das arquibancadas e nas caixas de som posicionadas no gramado do nosso Estádio Olímpico do Pará – O Mangueirão.

Nesse dia, o Flamengo ganhou o anfitrião (Remo) por 2×0, mas ouvir carimbó antes e no intervalo do jogo foi o grande presente ao ritmo e todos que gostam dele ou fazem dele a sua arte e a sua expressão cultural.

Anos depois, o Carimbó foi consagrado nacionalmente como Patrimônio Cultural e Imaterial do Brasil, após uma luta de grupos de Carimbó, que provocou uma dedicada pesquisa por servidores do Iphan, sobre as raízes deste ritmo que corre em nossas veias, assim como o Brega, o Siriá, o Lundú, a Guitararada, entre outros ritmos que ainda não tiveram a oportunidade de serem considerados como Patrimônio Cultural e Imaterial, nem do Brasil, nem tão pouco do Pará.

Leia também:

Tecnomelody, os Pubs e a Cultura Popular

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