Se a imprensa local aceita os trocados oferecidos por sua submissão e cumplicidade, a grande e velha mídia nacional não perdoa a política da província, quando os que dão as cartas insistem em usufruir das benesses do poder, para contemplar interesses pessoais e da família. A revista Veja não perdoou o governador Helder Barbalho (MDB), por sua teimosia em indicar Daniela Barbalho, sua mulher e mãe de seus filhos, como conselheira do Tribunal de Contas do Estado, cargo cobiçado pelas suas características de vitaliciedade e polpudo salário, e publicou, ontem, 13.03, às 12h33, em seu portal, uma matéria com o título: “Cartada final tenta barrar primeira-dama em Tribunal de Contas do Pará”.
A vaga que Daniela Barbalho assume foi aberta com aposentadoria do conselheiro Nelson Chaves. O cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas é vitalício, com estabilidade até os 75 anos. Um emprego dos sonhos, para ninguém botar defeito!
Hoje, o salário de um conselheiro é de R$ 35.462,22, mas passará a ser de R$ 41.846,40 mil. Tudo isso graças ao projeto de lei nº 27/2023 que dispunha sobre o reajuste do que cada Conselheiros e Conselheiros Substitutos da instituição recebe foi aprovado semana passada pelos deputados estaduais e agora segue para ser sancionado pelo governador.
O nome de Daniela para a vaga aberta no TCE foi aprovado hoje (14.03) pela Assembleia Legislativa, numa sessão que contou com a presença de 38 deputados. 36 votaram a favor, dois contra (Rogério Barra e Toni Cunha) e nenhuma abstenção.

OPOSIÇÃO PEDE AJUDA AO MINISTÉRIO PÚBLICO
Uma ação protocolada no MPPA, movida pela oposição ao Helder, é assinada pelos deputados estaduais Rogério Barra (PL) e Toni Cunha (PSC) ; deputados federais delegado Caveira (PL) e delegado Éder Mauro (PL), além do senador Zequinha Marinho (PL), os cinco cavaleiros do apocalipse do Helder. Eles querem barrar a nomeação de Daniela Barbalho, por nepotismo, e por ela não reunir os pré requisitos ao cargo, como a experiência profissional de 10 anos nas áreas do Direito ou da Contabilidade.
Mas esse não é o primeiro caso de nepotismo neste governo. Helder Barbalho já havia emplacado a tia, Mara Lúcia Barbalho, em uma vaga no Tribunal de Contas dos Municípios.
Vamos aos requisitos para ser conselheiro do Tribunal de Contas do Pará:
1 – Mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade – OK!
2 – Idoneidade moral e reputação ilibada; (aqui não avaliamos esse juízo de valor)
3 – Notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou de administração pública – NÃO TEM!
4 – Mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva atividade profissional que exija os conhecimentos mencionados no inciso anterior – NÃO TEM!
Ter padrinho político no mais alto escalão do poder não é critério oficial, porém esse tem sido o ítem decisivo para se conseguir o emprego dos sonhos.
Se Helder tem pretensões de voos mais altos na política nacional – como o boato sobre sua candidatura à presidência da República, que circula na rádio corredor – deveria considerar que a nomeação de sua mulher no TCE será questionada por muito tempo, e será a principal pedra no sapato da campanha eleitoral, se ele chegar até lá. É o que se pode depreender lendo a matéria da Veja.
“Imoralidade” (sic)
“Na ação que tenta barrar Daniela Barbalho no Tribunal de Contas paraense, os parlamentares afirmam que a indicação da primeira-dama é um ‘ato de incontestável imoralidade e inconstitucionalidade, [e que] precisa ser obstado imediatamente, antes mesmo que se consuma, com sério e irremediável prejuízo ao interesse público e aos republicanos princípios da impessoalidade, moralidade, eficiência e igualdade’. O motivo: Daniela é a atual primeira-dama do Pará e, caso confirmada para o cargo na Corte de Contas, será responsável por auditar o governo do próprio marido, o governador emedebista Helder Barbalho, e atuar em processos que, no limite, poderiam deixá-lo inelegível”, publicou a Veja.
Prossegue a matéria: “Além da alegação de nepotismo, a ação afirma que deve ser apurado se a indicada tem como comprovar o mínimo de dez anos de experiência em áreas jurídicas, contábeis ou ligadas à administração pública, exigência para a vaga no TCE”.
Os primeiros a publicar a notícia da indicação da Dani, comemorando o “feito”, foram os jornalistas próximos da família Barbalho: Mauro Bonna e Marcelo Marques, que curiosamente retiraram a postagem logo depois do mal estar causado com a revelação. Na época dos governos tucanos, casos de apadrinhamento político e nepotismo foram duramente criticados pelos veículos de comunicação da família Barbalho, que agora repete e faz até pior. É a política da província…
Resta saber como se posicionará o MPPA nesta Ação movida pela oposição. Também é importante acompanhar como ficará a imagem dos deputados estaduais da base aliada do governo perante a população, que estranha a relação entre o governo do estado e os órgãos que deveriam fiscalizar e impedir que escândalos como esse fossem possíveis de acontecer.
Na esfera pública, os interesses pessoais e privados estão se sobrepondo aos da coletividade. A sociedade está sendo subjugada e menosprezada pelos que se elegeram para representá-la e defender os direitos de todos e não esse tipo de privilégio de uma família ou classe política no poder.
Os partidos paraenses que estiverem envolvidos nessa trama ao se calarem agora, serão eternamente cobrados pela omissão diante desse escândalo. Políticos e membros da Justiça não poderão reclamar quando jogarem em seus rostos, o que eles fizeram ou deixaram de fazer, para sucumbir aos ditames de um jovem casal prepotente e dominador.
Onde está o limite do poder, quando seus detentores agem como verdadeiros imperadores, aristocratas da idade média, em plena era digital, em que tudo que acontece nos bastidores políticos vem à tona?
Leia também:
Governador do Pará interino tem as contas reprovadas e fica condenado a devolver 300.000,00
A propaganda milionária e as obras que Helder Barbalho não começa e nem termina